No Rio o L’Adroit
- Post 20 Fevereiro 2016
- By Super User
No dia 10 de fevereiro de 2016, foi aberto à visitação da imprensa o moderno Navio-Patrulha Oceânico francês L’Adroit (P725). Trata-se de um sofisticado navio projetado e construído pela DCNS, que inclui uma série de características de projeto e equipamentos que lhe conferem flexibilidade e capacidade de realizar diversas missões, entre elas: vigilância marítima, proteção da Zona Econômica Exclusiva, combate à imigração clandestina, pesca ilegal, narcotráfico, pirataria, infiltração e exfiltração de forças especiais, remoção de nacionais em zonas de conflito, etc. Embora pertencente à DCNS, o navio tem tripulação militar da Marine Nationale, devido a um inovador acordo sobre o qual falaremos mais adiante.
• Mário Roberto Vaz Carneiro e Ricardo Pereira
(Fotos Segurança & Defesa/Ricardo Pereira)
Acima Mesmo com o L’Adroit atracado no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, é impossível não se impressionar com suas linhas futuristas.
A imprensa foi recepcionada pelo comandante do navio (Capitão-de-Fragata Nicolas Guiraud ), o Embaixador da França no Brasil (Laurent BILI), o Adido de Defesa da França em nosso país (Capitão-de-Mar-e-Guerra Yannick Rest), e o representante da DCNS, Philippe Missoffe. Já à primeira vista, é evidente a aparência futurista do navio: convés “limpo”, a vante e a ré, monobloco da superestrutura a meia nau, costados e laterais inclinados para diminuir a seção radar (possibilitando um certo grau de furtividade), passadiço panorâmico (permitindo visão de 360 graus) e ausência de chaminé “convencional” (os gases de descarga dos motores são conduzido por dutos à ré da superestrutura, sendo então lançados na atmosfera — esse sistema ajuda também a diminuir o retorno de radar).
Deslocando 1.450t a plena carga, o navio tem comprimento de 87m, boca de 11m e calado de 3,3m. A propulsão é pelo sistema CODAD (Combined Diesel and Diesel), a cargo de dois motores diesel de 6MW, acionando dois eixos com hélices de passo controlável. A velocidade máxima (com os dois motores em linha) de 21 nós, a autonomia normal é de aproximadamente três a quatro semanas, e o alcance a 12 nós chega a 14.800km. O L’Adroit é guarnecido por aproximadamente 30 pessoas, mas pode acomodar outro tanto, de acordo com a missão ou em caso de necessidade (forças especiais, fuzileiros, destacamento aéreo, operadores de ARP, etc.).
Acima Vista da popa: em destaque, as portas por onde são lançados os RHIB. Observe-se também as dimensões do convoo e a ausência de chaminé convencional, estando visíveis os dutos por onde é feito o lançamento dos gases de exaustão dos motores diesel.
Acima Essas duas tomadas mostram um dos RHIB Zodiac armazenados na popa do navio, vendo-se logo atrás as portas que são abertas para possibilitar seu lançamento.
Acima A imagem revela a porta do hangar e, acima, as janelas da parte traseira do passadiço de 360 graus.
O navio é armado com um canhão F2 de 20mm/90cal na proa, podendo ser montada uma metralhadora M2HB de 12,7mm e uma de 7,62mm ou 5,56mm em cada bordo — além de dois canhões d’água. O espaço disponível, principalmente na proa, torna possível a adição de outras armas (como canhões de maior calibre ou até, em teoria, mísseis antinavio MM40 Exocet, embora esses não sejam normalmente cogitados quando se trata de NPaOc). O convoo pode receber um helicóptero de até 10t (NH90, Super Puma, Sea Hawk), e o navio pode hangarar e dar suporte a um helicóptero de até 5t (Panther, Lynx); os helicópteros podem, é claro, ser armados com torpedos, mísseis antinavio, canhões, etc. As operações aéreas são possíveis até com mar no estado 5, graças ao sistema passivo de estabilização de que dispõe o navio.
Acima Perfeitamente visíveis as linhas inclinadas que caracterizam o costado e o bloco da superestrutura do navio, e que permitam a diminuição da seção radar.
Abaixo Esse ângulo acentua mais ainda a percepção da inclinação das paredes da superestrutura.
O L’Adroit possui um radar de busca de superfície Terma Scanter 6002 (banda I), um de busca combinada Terma Scanter 4102 (banda I) —com antenas no interior do mastro integrado —, dois pequenos radares Themys de navegação e um sistema optrônico Sagem EOMS (Eletro-Optical Multisensor System) NG, acima do passadiço. O EOMS combina capacidade de busca e acompanhamento por infravermelho (IRST) com direção de tiro eletro-ótica. O sistema de combate é o Polaris, e o navio é dotado de um sistema de medidas de apoio à guerra eletrônica Thales Vigile LW Radar Electronic Support Measures (R-ESM) e um sistema de inteligência de comunicações Thales Altesse Communication Electronic Support Measures (C-ESM), além de um sistema de lançamento de despistadores Lacroix Sylena, na proa, com um lançador óctuplo em cada bordo. Outro sensor embarcado é uma torre FLIR Talon, integrada com o Polaris, capaz de detectar e identificar embarcações e outros objetos pequenos em alcances maiores que 10km.O Talon pode incluir imageador térmico, câmera colorida, iluminador laser, e telêmetro laser.
Acima Em que pese seu porte relativamente pequeno, o L’Adroit é um navio bastante sofisticado. O arco de visão a partir do passadiço é impressionante.
Acima Vista de um dos lançadores óctuplos de despistadores, próximos à proa.
Na popa, o navio possui portas por onde pode lançar e recuperar, em movimento, até dois botes rígidos infláveis (RHIB) Zodiac Hurricane 935 ou similares, ou ainda veículos submarinos autônomos Zodiac Sirehna; outro RHIB adicional pode ser transportado na superestrutura. A partir do convoo, podem ser operados ARP (Aeronaves Remotamente Pilotadas) de asa fixa ou rotativa.
Para sua atual comissão, o L’Adroit deixou a França em janeiro; após a visita ao Brasil, se dirigirá ao Uruguai, Argentina, África do Sul e Moçambique, retornando à França em maio. É interessante observar que o L’Adroit é parte do Projeto Hermes, que objetivava a construção pela DCNS, com recursos próprios, de um NPaOc demonstrador, para ser operado pela Marine Nationale por um espaço de tempo pré-determinado, a custo zero (a não ser os operacionais, como combustível, etc.). Entre os objetivos estava o recolhimento de informações que validassem certos aspectos do projeto das variantes maiores (corvetas/fragatas) da “família Gowind” (da qual o L'Adroit é o primeiro membro). A DCNS, diga-se de passagem, já comercializou dez corvetas “Gowind” (quatro para o Egito e seis para a Malásia).
Acima Em primeiro plano, o canhão de 20mm, estando também visíveis os lançadores de despistadores. As duas antenas sobre o passadiço, protegidas por domos, referem-se ao sistema de comunicações por satélite.
Assim, a DCNS construiu o L’Adroit e o lançou em 18 de maio de 2011, com as provas de mar sendo iniciadas em 27 de julho do mesmo ano; em novembro de 2011 foram conduzidos ensaios com a ARP não tripulada Schiebel S100, de decolagem vertical. O navio, incorporado em 19 de março de 2012, já operou no mar Mediterrâneo e nos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico. O período de cessão à Marine Nationale será encerrado em 31 de julho de 2016. Não foi divulgado ainda o que acontecerá a seguir, mas uma das possibilidades é a venda do navio, principalmente levando-se em conta o fato de que ele foi mostrado a diversos países durante esse longo tempo de navegação. •
Ao lado Imediatamente sobre o “bico” do passadiço, um dos radares Thamys de navegação; atrás dele (pouco visível devido ao ângulo de incidência da luz), o EOMS NG. As antenas na ponta do mastro são do sistema C-ESM Thales Altesse. No interior do mastro integrado estão as antenas dos radares Terma Scanter 4102 e o 6002 e no centro, logo acima dos braços maiores do mastro, está o outro radar de navegação.