12Dezembro2024

  
  

Segurança & Defesa

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A Logística na Guerra do Golfo

A Logística constitui um sistema operacional com o propósito de prever e prover recursos de toda ordem que permitam a realização de campanhas militares. Tal esforço ficou bastante evidenciado em um dos mais recentes conflitos da Era Contemporânea: a Guerra do Golfo.

• Maj Cav Fábio Benvenutti Castro

O presente trabalho tem por finalidade analisar o planejamento e a execução do apoio logístico às operações, particularmente as empreendidas pelos VII e XVIII Corpos de Exército (C Ex) dos EUA, no nível estratégico-operacional, durante o conflito no Golfo Pérsico, em 1991. Na conclusão, serão caracterizadas as diferenças doutrinárias entre os Exércitos dos Estados Unidos e do Brasil, no tocante à missão e à organização do Comando Logístico do Teatro de Operações Terrestre (CLTOT) e da Base Logística (Ba Log). Por considerarmos que os leitores de S&D estão familiarizados com o cenário que levou ao conflito, julgamos desnecessário descrevê-lo.


Acima Caminhões dispersos no deserto, formando o perímetro da área ocupada pela 364th Support Company, 3 de março de 1991. Foto: Dean Wagner/DoD

Missão e organização do CLTOT e das Ba Log
No nível estratégico-operacional, o apoio logístico nos escalões superiores ao Corpo de Exército no U. S. Army é exercido por um comando de apoio logístico (Cmdo Log ou “SUPCOM”), que opera diretamente ligado ao comandante do Teatro de Operações (TO) e executa suas atividades de apoio por meio de grupos de apoio de área (Area Support Groups, ASG) multifuncionais ou especializados. 

Ao lado Um adequado apoio logístico foi indispensável à consecução dos objetivos almejados pelos Estados Unidos e seus aliados na Guerra do Golfo. Foto: US DoD

Assim que os EUA determinaram o deslocamento de tropas para a região do Golfo Pérsico, foi organizado um comando de apoio logístico, subordinado ao Comandante do TO. Esse comando de apoio recebeu a denominação de “22nd Support Command” (22nd SUPCOM), tendo como comandante o Gen William Pagonis.

O 22nd SUPCOM era o responsável pela organização de toda infra-estrutura que serviria de apoio às forças aliadas no TO e possuía as seguintes missões:

- ajustar, desenvolver e organizar o apoio logístico fornecido pela nação anfitriã às necessidades das forças aliadas;

- utilizar toda a infra-estrutura local para fornecer o apoio logístico, desenvolvendo-a nas áreas onde essa estrutura se apresentava carente;

- receber as forças aliadas destinadas ao Golfo Pérsico, alojá-las, alimentá-las, e deslocá-las para suas áreas de reunião, proporcionando condições para que pudessem adaptar-se às condições locais, visando ao combate;

- reduzir os encargos de efetivos militares necessários por meio da contratação de mão-de-obra civil;

- estruturar-se valendo-se dos militares recém-chegados ao TO e meios fornecidos pela Arábia Saudita.

Como previsto doutrinariamente, o 22nd SUPCOM enquadrou três grupos de apoio de área (ASG), os quais tinham a responsabilidade de executar o apoio logístico aos elementos subordinados quanto a suprimentos, serviços de campanha e manutenção, bem como fornecer apoio em transporte e em saúde. Paralelamente às atividades logísticas, os ASG exerciam o encargo de controle das operações de segurança na área de retaguarda.

Esses comandos não possuíam organizações fixas e foram estruturados de acordo com a missão e as necessidades.
Pode-se observar, no gráfico “A Organização do Apoio Logístico”, a organização do 22nd SUPCOM e de seus elementos diretamente subordinados. Acrescentou-se, ainda, a estrutura logística subordinada aos XVIII e VII Corpos de Exército, buscando uma visualização mais completa da estrutura logística no TO.

Ao lado A ofensiva terrestre aliada foi tão rápida – cerca de 100 horas – que muitas das planejadas Bases Logísticas em território iraquiano tornaram-se meros postos de troca de reboques. Foto: DoD

Consolidada a estrutura funcional do apoio logístico às operações militares, o 22nd SUPCOM passou à fase operacional de organização desse apoio. O plano de apoio logístico às operações foi concebido para ser realizado em seis fases definidas no tempo e no espaço, com objetivos claramente estabelecidos:

- 1a Fase – preparação e pré-posicionamento;

- 2a Fase – deslocamento dos XVIII e VII Corpos de Exército;

- 3a Fase – ofensiva terrestre;

- 4a Fase – defesa do Kuwait;

- 5a Fase – retorno da tropa;

- 6a Fase – reconstrução do Kuwait.

Com a missão de armazenar e fornecer continuamente o suprimento necessário aos XVIII e VII C Ex, Bases Logísticas foram desdobradas pelo 22nd SUPCOM, particularmente ao longo das estradas principais de suprimento (EPS) Dodge e Sultan (Veja gráfico "EPS"). Esse artifício permitiu pré-posicionar suprimentos e fornecê-los ininterruptamente aos escalões envolvidos na operação, reduzindo a carência da infra-estrutura viária da região. Assim, o comando operacional pôde desdobrar seus numerosos contingentes de maneira contínua, liberando-os da necessidade de regular seus desdobramentos em profundidade por limitações logísticas.
Conclui-se, parcialmente, que a missão e a organização do CLTOT e das Ba Log foram frutos de um planejamento logístico consoante à concepção das operações táticas.
Veja gráfico "A Cadeia de Apoio Logístico"

Desdobramento das Ba Log
À medida que os contingentes começaram a chegar na Arábia Saudita, houve necessidade do estabelecimento de Ba Log em seu apoio. Inicialmente, foram estabelecidas Ba Log em torno do complexo aeroportuário de Dharan, Ad Damman e Jubayl, com a missão de receber e processar o ingresso no TO do XVIII C Ex, primeiro grande comando a desdobrar-se em território saudita.

Assim que uma maior quantidade de meios foi ingressando no TO, o 22nd SUPCOM desdobrou a Ba Log de Bastogne ao longo da rodovia Dodge, enquanto que o XVIII C Ex, utilizando o 1st COSCOM (Corps Support Command, ou Comando Logístico de Corpo de Exército), desdobrava a Ba Log de Pulaski.

Em virtude do não arrefecimento da crise do Golfo, o governo dos EUA determinou que o VII C Ex se deslocasse de sua base, na Europa Ocidental, para o TO do Golfo Pérsico. Essa decisão tornou impositiva a necessidade de se aumentar a estrutura logística na Arábia Saudita. Previa-se o deslocamento de grandes efetivos para o norte, o que determinou o estabelecimento das Ba Log Alpha, Bravo e Delta ao longo dos itinerários que seriam percorridos pelos VII e XVII C Ex, balizados pelas EPS Dodge e Sultan.
Veja gráfico "Fluxo de Suprimento".

Considerando a necessidade de pré-posicionar suprimentos a fim de proporcionar as melhores condições de apoio aos VII e XVIII C Ex, o 22nd SUPCOM estabeleceu, respectivamente, as Ba Log ECHO e Charlie ao longo da EPS Dodge. Devido às suas localizações, próximas às Posições de Ataque desses Grandes Comandos, viabilizou-se o apoio cerrado necessário à execução da ofensiva.

A ofensiva planejada projetava Poder de Combate na retaguarda profunda inimiga. Para consubstanciar o Apoio Logístico, foi planejado o estabelecimento de Ba Log em profundidade, que forneceriam o suprimento necessário às forças atacantes, à medida que as ações fossem realizadas. Desse modo, foram planejados o estabelecimento das Ba Log provisórias Hotel, Golf, Oscar, Romeo e November, todas localizadas em território iraquiano. Muitas delas, em virtude da rapidez das operações, converteram-se em meros postos de troca de reboques.

Em virtude da curta duração do combate terrestre, aproximadamente de 100 horas, algumas dessas Ba Log planejadas não foram totalmente estabelecidas, uma vez que a situação deixou de exigir seu desdobramento com os recursos e efetivos previstos. Outras, por sua vez, sequer foram estabelecidas, como foi o caso das Ba Log Hotel e Romeo. Tal fato proporcionou significativa vantagem tática, pois aliviou a força de ataque do encargo do estabelecimento de novas Ba Log.

Ainda nessa fase, uma incursão com a 101ª Divisão Aeromóvel (101st Airborne Division) estabeleceu uma base de operações avançada em território iraquiano, que serviu, posteriormente, para o desdobramento da Ba Log Cobra, com a finalidade de propiciar ações de grande envergadura e rapidez.

Infere-se, portanto, que o estabelecimento das Ba Log garantiu, com antecedência, os recursos para a concentração inicial de meios e investida contra as forças iraquianas, ratificando o planejamento e auferindo flexibilidade à Logística.
Veja gráfico "Desdobramento das Bases Logísticas"

Flexibilidade do Ap Log
De acordo com o Manual de Campanha C 100-10 – Logística Militar Terrestre, do Exército Brasileiro, flexibilidade é “o princípio que permite a adoção de soluções alternativas ante a possibilidade de mudança de circunstância”.

Os efetivos e suprimentos, oriundos de diversos continentes, foram transportados para o Golfo Pérsico por meios aéreos e marítimos, com o objetivo de proporcionar a maior quantidade possível de meios no TO em face da agressão iraquiana. Navios pré-posicionados funcionaram como depósitos flutuantes e continham suprimentos necessários para apoiar a tropa até que a cadeia de suprimento fosse estabelecida.

As diferentes concepções das operações “Desert Shield” e “Desert Storm” — defensiva e ofensiva, respectivamente — e a chegada do VII C Ex exigiram que planejamentos logísticos fossem adaptados de maneira que as ações decorrentes implicassem em mudanças mínimas no transporte e posicionamento dos recursos, já que haveria aumento significativo de suprimento no interior do TO.

Ao lado M2A2 Bradley sendo reabastecido pelo 26th Forward Support Battalion. Foto: Don Teft, DoD

Diante da dificuldade constatada em apoiar o movimento das tropas para a fronteira do Iraque, ainda em território saudita, previu-se e executou-se o pré-posicionamento de suprimentos em Ba Log, conforme informações anteriores, de modo a evitar interrupções nos deslocamentos para as posições de ataque. Tal medida também permitiu aos logísticos anteciparem-se à manobra tática, quaisquer que fossem as direções de ataque, em face da escassez de recursos e vias de transporte na região.

Para aumentar a flexibilidade do apoio logístico, foram executados alguns procedimentos, dentre os quais pode-se destacar:

- o nível de estoque de munição e alimentação foi aumentado de 30 para 60 dias;

- foram distribuídos equipamentos e programas computacionais para as unidades da ativa e da reserva que já estavam no teatro e para as que se dirigiam para o Golfo, facilitando a troca de informações e agilizando procedimentos;

- o 22nd SUPCOM destacou elementos de operações logísticas para a Cidade Militar Rei Khaled, mais próxima das tropas ao longo da fronteira iraquiana, visando ao melhor comando, controle e apoio cerrado;

- o transporte de suprimentos por helicópteros foi largamente empregado no apoio à batalha terrestre, antecipando-se, por diversas vezes, às tropas de combate e permitindo o deslocamento ininterrupto do fluxo;

- o transporte de suprimento foi realizado durante as 24 horas do dia, contrariando a norma de executá-lo preferencialmente à noite;

- a cadeia de apoio logístico operou em distâncias muito superiores às previstas nos manuais, devido ao avanço rápido das forças combatentes;

- devido à previsão de alto consumo e da urgência de transporte de grandes volumes, foi decidido construir a Linha de Oleodutos no Deserto (Pipe Line Over the Desert, PLOD). Este oleoduto cobria a distância de 100 Km, fornecendo 130.000 litros por hora;

- para simplificar e agilizar o reabastecimento, a munição foi organizada em Conjuntos de Carga de Combate Configurada (Combat-Configured Load Sets, CCLS), contendo quantidades específicas de cada tipo de munição, necessária para um determinado sistema de armas.

Assim sendo, verifica-se que a manobra logística do 22nd SUPCOM atendeu ao princípio da flexibilidade, por intermédio de medidas planejadas ou de contingência, na previsão e provisão dos recursos às operações táticas.

Mobilização e emprego da logística civil
Foi constatado que os meios orgânicos dos EUA foram insuficientes para o transporte das forças no TO e que a infra-estrutura local carecia de recursos para atenuar o esforço logístico pretendido. Tais óbices geraram a necessidade de uma bem planejada mobilização de meios materiais e pessoal. Foi estabelecida uma seção de contratos, que elaborou o cadastramento de fornecedores da região e formalizou a contratação de empresas locais prestadoras de serviços.

No que se refere a transportes, o órgão responsável foi a 318ª Agência de Transporte, que desdobrou-se no TO em 20 de setembro de 1990 e foi auxiliada pelo 49º Centro de Controle do Movimento (MCC). Firmaram-se contratos com empresas comerciais locais e com o Sistema de Transporte Público Saudita, por intermédio do sistema de leasing, e com motoristas de diversas nacionalidades, para auxiliar no transporte dos suprimentos e pessoal no interior do TO.

O sistema de contratos deparou-se com diversos obstáculos. A dificuldade de adaptação dos contratados às normas militares; os problemas de comunicação devido à diversidade de idiomas e o não-cumprimento, pelas empresas, dos prazos firmados provocaram atrasos na entrega de cargas e dificultaram a coordenação e o controle, afetando o sistema logístico.

Tais problemas foram prontamente solucionados. Os motoristas que falavam espanhol eram assistidos por militares norte-americanos que dominavam esse idioma. Os outros eram auxiliados pela utilização de mapas e esboços, além de terem suas viaturas devidamente identificadas. Mais de 490 semáforos direcionais foram instalados para auxiliar a engenharia de tráfego na missão de aumentar a velocidade do fluxo do transporte. Esse benefício foi possível devido a um convênio formalizado entre o 49º MCC e as autoridades sauditas responsáveis pelo controle do trânsito, garantindo mais eficiência ao sistema de contratos.

Ao lado Um UH-60 Black Hawk, configurado para evacuação aeromédica, é reabastecido numa das Bases Logísticas. O combustível era também vital para os meios aéreos. Foto: DoD

Durante o conflito, os meios contratados participaram, ativamente, do transporte de cerca de 1.700 viaturas com Suprimentos Classes III e V e de, aproximadamente, 15.000 containers pelas EPS, para satisfazer às necessidades do TO. O transporte de pessoal foi realizado por meio de empresas de ônibus locais contratadas. Foram utilizados cerca de 1.700 ônibus civis para transportar efetivos militares, percorrendo inicialmente as rotas balizadas pelas EPS Sultan e Dodge e ligando locais de desembarques de tropas às zonas de reunião dos XVIII e VII C Ex.

Para aumentar a eficiência da rede de estradas, foram criados centros de apoio aos comboios ao longo das principais EPS. Esses centros de apoio operavam 24 horas por dia e possuíam várias facilidades como barracas para descanso, latrinas, oficinas para reparação de viaturas, estação de combustível e até serviço de lanchonete. A instalação desses pontos de apoio, operados em certas áreas por prestadores de serviços civis, contribuiu para diminuir o risco de acidentes e aumentar o conforto oferecido aos motoristas, otimizando, assim, o sistema de transporte pela significativa melhora do desempenho.

A contratação de empresas de aviação civil, responsáveis pelo transporte de pessoal para a região do conflito, foi realizada assim que foram firmados os contratos nos EUA. Essas empresas não somente transportaram pessoal, como também complementaram o transporte de cargas, contribuindo para que concentração estratégica fosse obtida em menor prazo.
Devido à complexidade dos materiais empregados pelas forças aliadas, foram terceirizadas atividades de manutenção em equipamentos de alta tecnologia agregada, particularmente as revisões de 5º escalão. Foram contratados empregados das fábricas fornecedoras dos equipamentos, elevando-se a disponibilidade de helicópteros, aviões e equipamentos eletrônicos, dentre outros itens.
Apesar dos problemas levantados, a contratação de meios civis foi fundamental para a execução da logística, permitindo a economia de meios orgânicos e efetivos militares. Tais recursos puderam, então, ser empregados em áreas mais próximas da linha de contato. 

Apoio da Nação Anfitriã
Era interesse do Governo saudita afastar o risco de uma invasão iraquiana. Por esse motivo, as autoridades daquele país proporcionaram às forças estacionadas em seu território diversas formas de apoio, que repercutiram nas atividades logísticas. Dentre elas, podem ser citadas:

- apoio em comida, abrigo, transporte e água às tropas estadunidenses;

- disponibilização de 3.000 leitos hospitalares;

- cessão de viaturas civis e motoristas para contratação pelo “Host Nation Support” (HNS) e para que se destinassem à complementação das necessidades de transportes de pessoal suprimentos para as áreas mais avançadas do TO;

- disponibilidade de asfalto, aço, concreto, cascalho, materiais de construção e obstáculos necessários a impedir o acesso das tropas iraquianas à Arábia Saudita;

- intermediação nos processos de contratação de firmas sauditas para os serviços de infra-estrutura e no relacionamento com as empresas estadunidenses, prestadoras de serviços necessários aos efetivos que chegavam à área do conflito;

- suplementação de recursos financeiros em face das limitações orçamentárias impostas pelo Congresso dos EUA para a contratação de serviços no decorrer das operações.

Dessa forma, fica evidenciada a importância da contribuição da nação anfitriã para o sucesso das operações das forças dos EUA.

Conclusão e comparação
Os registros sobre a Guerra do Golfo, ocorrida no limiar da Era da Informação, continuarão a permitir que estudiosos tenham acesso a relatos precisos de fatos que ocorreram desde a invasão do Kuwait até a retirada das forças de coalizão do território saudita. Os números referentes a efetivos e meios empregados atingiram patamares que evidenciaram a magnitude do conflito e do esforço logístico necessário à consecução das operações estratégico-operacionais.

O planejamento e a execução das atividades logísticas, a partir de uma estrutura implementada no território saudita; as condutas adotadas, à medida que os óbices iam ocorrendo; e a capacidade de adequação da doutrina às peculiaridades do conflito conduziram a uma vitória esmagadora sobre as forças iraquianas, surpreendidas pelo emprego de forças com alto poder de letalidade e mobilidade.

A previsão e a provisão dos recursos para tais efetivos ratificaram o determinismo do Sistema da Logística no sucesso das operações.
A valorização da Logística foi fruto, principalmente, da atuação das forças dos EUA, que não limitaram esforços na otimização do apoio às operações. Entretanto, há de se considerar que não se tem notícias de que os iraquianos tenham interferido em tal suporte logístico, já que ações foram implementadas no sentido de anular o poderio de sua força aérea e quebrar o ciclo de seu processo decisório.
Nesse contexto, serão caracterizadas algumas diferenças doutrinárias entre as Forças Terrestres dos EUA e do Brasil. Antes, porém, vale ressaltar as diferenças de potencial econômico dos dois países e de concepção de emprego da Expressão Militar do Poder Nacional. A dos EUA caracteriza-se pela projeção de poder em qualquer lugar onde os seus interesses estejam ameaçados, contrastando com o que prescreve Constituição Federal do Brasil, que estabelece, para o campo externo, a defesa da Pátria.

Na Guerra do Golfo, as ações que garantiram a concentração dos meios foram planejadas e executadas com bastante antecedência, e somente após concluídas deu-se início à fase da ofensiva. Essa foi a missão do 22nd SUPCOM, que implementou uma estrutura logística de grandes proporções além-mar, em TO inóspito e com recursos acanhados em face das necessidades previstas para o completo desdobramento das forças aliadas. No caso do Exército Brasileiro e segundo a sua concepção de emprego, já deverá haver uma estrutura, com base nas regiões militares, desde o tempo de paz, que deverá evoluir para o CLTOT, escalão equivalente ao 22º SUPCOM.

A estrutura organizacional implantada em território árabe originou-se a partir de unidades recebidas de outros comandos, localizadas dentro e fora dos EUA, com apoio do país anfitrião e de várias nações.

O Brasil não visualiza tais deslocamentos, exceto aqueles em seu território, nem o emprego de mão de obra de outros países, quer seja militar ou civil.

No Golfo, estabeleceu-se um escalão avançado do 22nd SUPCOM. Não há previsão, no caso brasileiro, de que se proceda da mesma forma quanto ao CLTOT. Quanto às Ba Log, foram estabelecidas para se pré-posicionar suprimentos, em apoio às direções estratégicas, revelando-se fundamentais no sistema logístico do 22nd SUPCOM. Em território iraquiano, algumas das Ba Log planejadas não foram instaladas devido ao curto espaço de tempo das operações. Contudo, em outras, realizaram-se também atividades logísticas de saúde e manutenção, complementares e de pequena amplitude.

A Doutrina brasileira não prevê Ba Log antecipando-se ao esforço de combate do Exército em campanha. Entretanto, visualiza-se o desdobramento de Postos Avançados de Suprimento (P Avçd Sup) das Classes mais importantes às operações em curso.
A Ba Log do Exército Brasileiro constitui um grande comando Logístico capaz de enquadrar Organização Militares Logísticas que existem desde o tempo de paz, podendo, ainda, ser complementada pela mobilização de recursos civis. Não se limita a localização de suas instalações a áreas contíguas, e sua amplitude de desdobramento dependerá da disponibilização de recursos e da capacidade de comando e controle.

As Ba Log dos EUA foram áreas onde, predominantemente, ocorreu o pré-posicionamento de recursos, coordenadas por um Comando Logístico, ensejando compará-las, mais adequadamente, com uma grande área de apoio logístico.

No Exército Brasileiro, a Logística continua relegada a um plano secundário, em que pesem a intensificação do seu estudo nas escolas e a criação do COLOG, à luz da nova Organização Básica do Exército (OBE). Na maioria das vezes, as operações logísticas e as manobras táticas são concebidas e estudadas separadamente, pouco se atentando para as implicações daquelas ações sobre estas e vice-versa. Ademais, a mobilização e concentração de meios, em face das hipóteses de emprego da Força, ainda suscitam dúvidas ou parecem estranhas para grande parcela da oficialidade.

Integrar a Logística ao planejamento e à execução das manobras nos diversos níveis de comando, desde o tempo de paz, é ter aprendido lições de História Militar que foram ressaltadas de forma significativa na Guerra do Golfo. •