21Novembro2024

  
  

Segurança & Defesa

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MBTs – O Futuro

Haverá um futuro para os carros de combate pesados? Esta pergunta não é nova, e tem sido feita com freqüência desde a introdução em serviço da primeira geração de CC, por ocasião da Primeira Guerra Mundial. Cabem, portanto, alguns comentários a respeito do cenário atual e das perspectivas futuras.

 

Acima Os mísseis de perfil “top attack”, como o Bill (foto), complicaram o problema da sobrevivência dos carros de combate. (Ilustração: Bofors)

• Mário Roberto Vaz Carneiro??

O carro de combate (CC) surgiu na Primeira Guerra Mundial, em resposta à estagnação representada pela guerra de trincheiras. Na época e mesmo nos anos que se seguiram àquele conflito, não foram muitos os que vislumbraram que o emprego dos CC somente no acompanhamento da infantaria a pé configurava uma imensa subutilização. Mesmo assim, os CC foram evoluindo e, de uma maneira geral, impondo-se de forma bem sucedida à grande maioria das armas anticarro (AC) de então.?

Até o início da Segunda Guerra Mundial, o armamento anticarro mais amplamente empregado eram os canhões e munições especificamente projetados para vencer a blindagem dos veículos. Surgiram então os lança-rojões e, por um breve momento, parecia que o reinado dos CC no campo de batalha estava encerrado, já que um simples infante passava a ter à sua disposição um meio eficaz para sua destruição. Na prática as coisas não se mostraram tão simples, pois esses e outros armamentos disponíveis para o combatente individual podiam ser sobrepujados pelo emprego de blindagens mais espessas ou melhores. Nesse caso a vantagem ficava com o projetista de blindados, pois o limite de calibre (e conseqüentemente do peso e da eficácia) dos lança-rojões e suas munições seria atingido de forma relativamente rápida.


Acima Outra forma de “top attack” é proporcionada pelas submunições do tipo “self-forging munitions”. Na ilustração, a Bonus, desenvolvida na França. (Foto: GIAT)

O posterior aparecimento dos mísseis anticarro complicou a situação para os CC, principalmente quando seu uso foi combinado com os helicópteros de ataque. O aumento da espessura da blindagem “comum” começou a prejudicar consideravelmente as características das viaturas, principalmente em termos de mobilidade. Isso levou ao desenvolvimento de novos tipos de blindagem, (composta, espaçada, reativa, etc.), que durante algum tempo conferiram aos carros pesados (MBT, ou Main Battle Tanks) de ponta um certo grau de imunidade contra grande parte dos mísseis (pelo menos no arco frontal do casco e em pontos vitais, como a torre).?

Num primeiro estágio, a resposta dos projetistas de mísseis foi aumentar o calibre das cabeças de guerra (que logo atingiram o limite prático) e, em seguida, desenvolver novos mísseis capazes de atacar parte superior dos carros (perfil do tipo “top attack”), menos protegida que as outras. Essa parte é também o alvo prioritário do novo tipo de submunição AC desenvolvida para uso pela artilharia de campanha: as “self-forging submunitions”. Tratam-se de submunições extremamente compactas, armazenadas em granadas (normalmente nos calibres 120 mm a 155 mm), que são ejetadas sobre a área do alvo e que descem lentamente de pára-quedas, executando um padrão de busca em espiral. Detectado um blindado, o sistema de disparo é ativado, lançando sobre o topo do veículo um jato de metal incandescente a velocidades e temperaturas altíssimas (princípio da “carga oca”).


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 Os modernos lança-rojões, dos quais o Bofors AT4 é um bom exemplo, conferem ao infante um meio de se contrapor a blindagens menos sofisticadas (Foto: Bofors).

Essas novas blindagens constituem-se também em uma boa defesa contra as munições (inclusive tipo “flecha”, nas quais o projétil é um penetrador feito de material muito duro e denso — urânio exaurido, por exemplo) disparadas pelos canhões de veículos menos sofisticados. A evolução no projeto e produção de munição “flecha” dificultou sobremaneira a probabilidade de sobrevivência a um acerto; via de regra, é difícil a um CC resistir a um impacto de “munição flecha” disparada por outro CC da mesma geração e porte. É claro que se está falando em tese, já que o resultado de um engajamento vai depender de diversas variáveis, entre elas os tipos de veículos e o ângulo do impacto. Por outro lado, os MBT de uma geração são praticamente imunes à maioria dos tiros dos carros da geração anterior, e também aos tiros dos veículos de reconhecimento de sua própria geração.??

Defesa
Logicamente, o ideal para um CC seria: a) não ser descoberto; b) se descoberto, não ser atingido; c) se atingido, limitar ao máximo os danos ao equipamento e à guarnição. Para atender o item “a”, um CC pode utilizar os tradicionais expedientes de ocultação e camuflagem (as modernas redes de camuflagem, aliás, são eficazes em uma larga faixa do espectro de radiação eletromagnética, inclusive infravermelho). Além disso, no projeto dos carros modernos busca-se baixas assinaturas visual (baixa silhueta, compacidade), acústica (abafamento de ruídos), de radar (cuidadoso desenho das superfícies exteriores) e infravermelho (IV). Para atender o quesito “b”, os carros de combate há muito tempo já dispunham de dispositivos lançadores de fumígenos, que originalmente protegiam apenas contra sistemas de pontaria e guiamento óticos, mas que atualmente são eficazes também contra IV; a mobilidade é outro fator importante para minimizar a possibilidade de ser atingido. O terceiro e último item exige pelo menos blindagem eficaz, um bom sistema de combate a incêndio, e projeto cuidadoso para que a força das possíveis explosões internas seja dirigido para fora do veículo. Além dessas, outras providências devem ser tomadas para proteger a guarnição (sistema de proteção NBQ, sistema de armazenamento da munição que ofereça alguma proteção aos homens em caso de impacto, etc.), mas para efeito do presente texto as já relacionadas são suficientes.


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O míssil anticarro é uma ameaça importante aos MBT, principalmente quando utilizado por helicópteros de ataque (na foto, um Mokopa é lançado a partir de um Rooivalk). Muitos mísseis modernos possuem duas cabeças de guerra, em tandem, o que reduz consideravelmente a eficácia das Blindagens Reativas Explosivas. (Foto: Alf Yssel/MediaMakers)

Os modernos métodos e equipamentos de camuflagem podem permitir um certo grau de “invisibilidade” a um carro emboscado, por exemplo. Entretanto, uma vez tendo entrado em ação, não é fácil a um CC evitar a detecção. A assinatura visual produzida pelo disparo do canhão, por exemplo, pode ser vista a longas distâncias. Sendo inevitável que o inimigo acione seus próprios meios contra o CC, torna-se imperativo que este disponha de suficiente proteção para sobreviver a um ou mais impactos do armamento adversário.

A primeira solução foi a aplicação de blindagem adicional, passiva ou do tipo ERA (Explosive Reactive Armor, ou Blindagem Explosiva Reativa), como já mencionado. Israel foi o primeiro país a adotar placas de ERA em grande escala, o que garantiu que seus M48, M60 e Centurion empregados nas operações no Líbano ficassem extremamente bem protegidos contra lança-rojões RPG-7, além de mísseis e projéteis de carga oca. Aparentemente, um dos fatores que influenciam a eficiência das ERA são a distância a que são colocadas do corpo do veículo e sua inclinação — daí sua aplicação ser específica para cada modelo de viatura. Atualmente vários fabricantes, de diversos países, oferecem kits para aplicação em blindados.


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Para aumentar o nível de proteção de seus CC AMX-30B2, a França optou pelo sistema de Blindagem Explosiva Reativa Brenus, desenvolvido pela GIAT. (Foto: GIAT) 

Em teoria, a adoção de blindagens cada vez mais espessas poderia por si só tornar um blindado imune ao armamento inimigo. Entretanto, na prática isso acabaria por inviabilizar a própria existência dos MBT, já que seu peso e dimensões assumiriam proporções que tornariam impossível sua utilização. Existe um limite para o peso de um CC, e este é estipulado pela capacidade de carga das pontes e estradas da região onde o veículo precisa operar. Mesmo desconsiderando aberrações como o Maus, CC de 185 toneladas desenvolvido pelos alemães durante a guerra, é inegável que o peso dos CC subiu a níveis alarmantes.?Para corroborar o que foi dito acima, seria conveniente um rápido exame de seis dos principais MBT da atualidade: M1, Leopard 2, Leclerc, Merkava , Challenger e T-80. As características físicas encontram-se na tabela.


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Essa foto ilustra graficamente o problema de baixa mobilidade estratégica dos MBT atuais: apesar de sua imensa capacidade de carga, um C-17 só pode transportar de cada vez um M1 Abrams. (Foto: Boeing)

Abrams
O M1 Abrams entrou em serviço no exército dos Estados Unidos em 1978, e a grande novidade era que seu grupo propulsor consistia de uma turbina. Mais de 3.200 unidades do M1 (com canhão de 105 mm) foram produzidas para o U. S. Army, que recebeu a seguir 4.796 M1A1 (com canhão de 120 mm); outros 221 M1A1 foram entregues ao U. S. Marine Corps, além de 555 kits para o Egito, que instalou uma linha de produção local. A variante final foi o M1A2, da qual o U. S. Army recebeu 66 exemplares originais — aos quais se seguiram várias centenas convertidos a partir de modelos anteriores. O M1A2 foi também produzido para o Arábia Saudita (315) e o Kuwait (218).

A turbina acabou sendo o calcanhar de Aquiles do Abrams. O consumo de combustível é grande, o que se revelou um problema sério durante a Guerra do Golfo. Existe um projeto da General Dynamics para instalar no Abrams um motor diesel MTU MT883 V12, mas a princípio isso se aplicaria somente a veículos encomendados no futuro.

O U.S. Army planeja converter um total de 1.533 Abrams para o padrão M1A1D (versão “digitalizada”, dotada de “situation awareness system” — sistema de consciencia situacional —, receptor GPS, telêmetro laser seguro para os olhos, melhor sistema de comunicações, etc.). Além disso, 1.174 estão recebendo um Pacote de Melhoramento dos Sistemas (SEP, ou Systems Enhancement Package), que além dos equipamentos relacionados para o M1A1D inclui também displays coloridos melhores e um sistema de gerenciamento térmico integrado. Posteriormente, deverá ser implementado um outro programa de “upgrade” através dos quais os M1A1D receberão alguns sistemas semelhantes aos do M1A2 SEP.

Leopard 2
Embora tendo entrado em serviço em 1979, o Leopard 2 — produto da KMW, da Alemanha — é em geral considerado o melhor MBT do mundo. Encontra-se em serviço na Alemanha (1.800), Holanda (445), Suíça (380, dos quais 345 construídos localmente), Suécia (160 provenientes do exército alemão, acrescidos de 50 Leopard 2 novos produzidos na Alemanha e mais 70 produzidos na Suécia), e Espanha (219, sendo 29 produzidos pela KMW e o restante localmente pela Santa Barbara; como medida provisória, 108 Leopard 2 foram arrendados da Alemanha). Em fevereiro de 2002, a Finlândia anunciou a intenção de adquirir, por US$86 milhões, aproximadamente 100 Leopard 2A4 anteriormente operados pelo exército alemão. Recentemente, o Leopard 2 foi selecionado pela Grécia, numa versão conhecida como Leopard 2GR, enquanto a Polônia deverá receber 128 Leopard 2A5 proveniente dos estoques excedentes da Alemanha.

Pelo programa KWS2 (Kampfwertsteigerung 2), a Alemanha está modernizando 350 Leopard 2A4 para o padrão 2A5, que inclui nova blindagem na torre, rodetes blindados, e saias laterais melhoradas. Esses veículos já serão preparados para receber o novo tubo de 55 calibres para o canhão, previsto para instalação quando os carros forem elevados para o padrão 2A6. Para 2004-2005, está planejada a adoção do sistema Ifis de gerenciamento de combate nos carros em questão.


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O Leopard 2A5 é geralmente considerado como o melhor CC do mundo. A variante 2A6 terá um canhão com tubo mais longo. (Foto: KMW)

A Dinamarca e a Holanda (ver S&D nº66 págs. 20-25) também estão aplicando o mesmo programa, com a diferença que os CC dinamarqueses utilizarão o pacote de blindagem semelhante aos Leopard suecos, e serão conhecidos como 2A5+. Os Leopard suecos, conhecidos como Strv 122, são provavelmente os CC mais bem protegidos do mundo. Seu peso de combate, entretanto, chega a 62.000 kg.

Leclerc
O Leclerc é o mais recente MBT totalmente novo a ser projetado no Ocidente, e o primeiro exemplar de produção ficou pronto em dezembro de 1991. Seus projetistas merecem elogios por terem, em plena Guerra Fria, projetado um MBT relativamente compacto, com peso menos elevado do que seus contemporâneos, e com um tripulante a menos. O carregador automático dispõe de 22 tiros para pronto uso, armazenados na parte traseira da torre, e internamente são utilizados displays coloridos ao invés da instrumentação convencional. O canhão de 120 mm é francês, mas pode usar a mesma munição do canhão usado no Leopard 2 e no Abrams. A adoção de um tubo mais longo (55 calibres) resulta em maior velocidade inicial quando se usa munição APFSDS (Armor-Piercing, Fin-Stabilized Discarding Sabot).

A França desejava re-equipar seu exército com até 1.400 Leclerc, o que permitiria a substituição de todos os AMX-30 em uso. Eventualmente, a quantidade adquirida caiu para 406 da versão CC e 20 da variante de socorro, o DNG . Em 1993, a GIAT — produtora do veículo — assinou um contrato de US$3,4 bilhões para o fornecimento de 436 Leclerc (390 carros de combate e 46 viaturas de socorro) aos Emirados Árabes Unidos. Por discordâncias quanto aos termos contratuais, as entregas foram suspensas durante alguns meses, em 2000-2001, mas a situação já foi normalizada.


Acima O único sucesso de exportação do carro francês Leclerc foi para os Emirados Árabes Unidos, que adquiriram 390 unidades da versão CC e 46 da versão de socorro. (Foto: GIAT)

Abaixo Essa vista do interior do Leclerc mostra a sofisticação do Sistema de Gerenciamento de Batalha adotado. (Foto: GIAT)

O GIAT está trabalhando em um estudo técnico-operacional para a renovação dos Leclerc em 2010. Em princípio, todos os carros voltariam à fábrica, para que fossem “zerados” seus cascos e grupos propulsores. Simultaneamente seriam incorporados kits “stealth”, de contramedidas e de proteção balística. Um dos objetivos é oferecer diferentes combinações desses três itens, para que o CC possa ser otimizado para cada missão. Por exemplo: em missões de manutenção da paz o nível de proteção de um carro pode ser menor do que em um cenário em que se preveja a possibilidade de engajamento contra outros CC da mesma geração. Outros melhoramentos para o Leclerc poderiam incluir maior proteção lateral, superior e no piso, novos sistemas de detecção e identificação de alvos e adoção de novas munições para o armamento principal.

A GIAT Industries está concluindo a fabricação dos veículos para os Emirados Árabes, e a entrega dos últimos veículos da encomenda francesa será feita em 2005. No momento, está sendo negociado com a Arábia Saudita o fornecimento de 355 Leclerc na versão CC e mais 38 na variante de socorro, um contrato cujo valor pode chegar a US$4,6 bilhões. Aparentemente, porém, o maior obstáculo é o fato da Arábia Saudita insistir para que a França receba de volta, como parte do pagamento, as centenas de carros de combate AMX-30 e de viaturas de combate de infantaria AMX-10 que atualmente são utilizados pelo exército saudita. Os franceses rejeitam essa opção, já que no momento não há mercado que possa absorver esses veículos de segunda mão. A França apelou ao Primeiro-Ministro do Líbano para que esse tente ajudar na comercialização das viaturas usadas; a Tunísia poderia ser um comprador em potencial. Se o contrato com os sauditas não for assinado até julho de 2003, a GIAT terá que fechar a linha de produção.

Merkava
Ao projetar o Merkava, os israelenses claramente deram ênfase à blindagem, deixando a mobilidade em segundo plano. Diferentemente do usual, o motor foi colocado na parte dianteira do carro, abrindo espaço para que na traseira houvesse um compartimento relativamente amplo, para transporte de munição extra. Se a quantidade de munição extra para o canhão principal for reduzida em 45 tiros, é possível ao Merkava transportar nesse compartimento dez soldados (que, entretanto, ficariam totalmente isolados, já que para eles não há dispositivos que permitam a visão para fora do veículo).

Abaixo O pesadíssimo Merkava (na foto o Mk.3) israelense tem o motor na parte dianteira, aumentando o nível de proteção da guarnição contra ataques frontais. Os especialistas têm criticado o desenho da torre, alegando a formação de “shot traps”, que desviariam projéteis contra o vulnerável anel da torre. (Foto: Segurança & Defesa)

O primeiro protótipo foi completado em 1974, sendo interessante o fato de que os Estados Unidos contribuíram com US$100 milhões para custear o desenvolvimento e parte da produção do veículo. Os primeiros Merkava 1, dotados de canhão de 105 mm e motor de 900 hp, foram produzidos pela IMI (Israel Military Industries) e entregues ao exército de Israel em 1979, sendo empregados em combate três anos depois, no Líbano. Em 1984 foi introduzido o Merkava 2 — ainda com canhão de 105 mm e mesmo motor, mas melhor protegido e equipado com novo telêmetro laser e outras melhorias. Em 1990 apareceu o Merkava 3 (com canhão de 120 mm de alma lisa, motor de 1.200 hp, controles elétricos para a torre etc.), também conhecido como Baz (Falcão), que atualmente é o principal carro de combate do exército israelense.

Nas recentes operações contra os palestinos, um Merkava 3 teve a parte inferior do casco rompida pela explosão comandada de uma bomba enterrada numa estrada, o que causou a morte dos tripulantes. Os israelenses informam que na ocasião não estava instalada no veículo a placa de blindagem adicional (removível) para o piso do casco, exatamente para proteção contra esse tipo de ataque.

Não foram liberados dados sobre a quantidade de Merkava produzidos, mas acredita-se que o exército de Israel disponha atualmente de 1.280 desses carros. À exceção do motor — um diesel de origem americana, desenvolvendo 1.200 hp —, todos os itens principais são produzidos no próprio país. A próxima versão será o Merkava 4, com motor mais potente. Até agora o Merkava não foi exportado, mas comenta-se que a nova variante será alvo de uma forte campanha de comercialização.

Challenger 2
O Challenger 2, britânico, é em essência um Challenger 1 com casco melhorado e nova torre. As entregas ao British Army foram iniciadas em 1994, mas o veículo só foi declarado operacional em 1999. Ao todo, o exército britânico possui 386 exemplares da versão CC, além de 22 da variante de treinamento de motoristas, e o último exemplar para o cliente “da casa” foi entregue pela VDS (Vickers Defence Systems) em fevereiro de 2002. A única exportação ocorreu para Omã, que adquiriu um total de 38 unidades do Challenger 2E e quatro viaturas de socorro do Challenger 1.

Abaixo O Challenger 2 é utilizado pela Grã-Bretanha e por Omã. Seu custo, entretanto, tornará difícil exportações adicionais. (Foto: Cpl Wes Calder RLC)

O veículo permanecerá muito tempo em serviço, estando planejados três “Grupos de Inserção de Tecnologia” (TIG=Technology Insertion Groups). No TIG-A a ênfase será na digitalização, sendo integrado o novo sistema de comunicações Bowman. No TIG-B, planejado para 2010, será aumentada a capacidade de visão térmica e adotadas novas munições. Quanto ao TIG-C, previsto provavelmente para 2020, não há ainda definição.?Visando a eventual substituição do Challenger 2, a DERA está desenvolvendo alguns conceitos. Sabe-se que um deles adota como armamento principal um canhão/lançador de mísseis montado em uma torre, de cada lado da qual é instalado um canhão leve para defesa antiaérea.??T-80?O T-80 é um dos principais CC pesados russos, e sua produção em série foi iniciada em 1983.O veículo foi produzido em enormes quantidades (pelo menos 20.000 até 1993, e a partir de então o ritmo foi reduzido). Recentemente, 320 T-80 foram encomendados pelo Paquistão e 30 pela Coréia do Sul. O T-80 foi o primeiro CC russo a ser impulsionado por uma turbina, e a adoção de um carregador automático (com 28 tiros disponíveis para pronto uso, e mais 17 armazenados a bordo) permite que seja guarnecido por três homens.

Acima O T-80U tem aproximadamente 75% do peso e volume dos MBT ocidentais, o que reflete a filosofia russa de projeto de CC, que privilegia a compacidade e silhueta baixa, em detrimento do conforto da guarnição. (Foto: Rosoboronexport)


O armamento principal é o canhão/lançador de mísseis 2A46M-1, de 125 mm e alma lisa, que pode disparar vários tipos de munição — entre elas APFSDS (Armor-Piercing Fin-Stabilized Discarding Sabot, a conhecida “munição flecha”), HEAT (high Explosive Anti-Tank, ou Alto Explosivo Anticarro) e HEF (High Explosive Fragmentation, ou Alto Explosivo de Fragmentação) —, bem como mísseis anticarro. As versões iniciais do T-80 usavam o míssil 9M112 Kobra (AT-8 Songster, na denominação da OTAN), mas a variante atual emprega o 9M119M (AT-11 Sniper), guiado a laser e com cabeça de guerra do tipo HEAT. A utilização desse míssil confere ao T-80U a capacidade de engajar alvos a distâncias de até 5.000 m.?Como é comum em carros russos, a silhueta é baixa, o que, somado ao cuidadoso desenho do casco e torre, isolamento térmico, e outras providências, lhe confere excelentes níveis de assinaturas. O maior consumo de combustível que resulta do uso da turbina é parcialmente compensado pela capacidade de transportar combustível adicional em tanques externos, removíveis (outra característica típica dos CC russos).??Peso demasiado?Se há alguma coisa sobre a qual todos os especialistas em blindados concordam, é que a próxima geração de MBT (se houver uma próxima geração) não poderá ter peso superior aos carros pesados atuais. CC como o M1A2 (69,5 t), Challenger 2 (64,0 t), Leopard 2A5 (59,7 t), Leclerc (56,5 t) e Merkava 3 (65,0 t) já atingiram o patamar máximo e peso admissível — muitos especialistas afirmam até que alguns deles já ultrapassaram esse patamar. Os MBT russos tradicionalmente são mais leves (o T-80U pesa 46,0 t), em parte porque sacrificam certos aspectos que não são “politicamente corretos” no Ocidente (o conforto da tripulação, por exemplo).?Pesos elevados dificultam a mobilidade (não são todas as estradas e pontes que os suportam), limitam o emprego (em geral não são adequados a operações de manutenção ou imposição de paz em países em desenvolvimento ou não desenvolvidos), resultam em custo elevado (por motivos óbvios), criam problemas de mobilidade estratégica (por exemplo: somente um Challenger 2 pode ser transportado de cada vez por um C-17), etc.


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 O “Black Eagle” pode ser a base de um futuro MBT russo. Com baixa silhueta, Blindagem Reativa Explosiva e canhão de 135mm, o veículo seria um adversário indigesto. Foto: Rosoboronexport)

Uma das maneiras de diminuir o peso seria a adoção de soluções radicais, como o abandono da torre, colocando-se o canhão no próprio casco. Um veículo assim já foi produzido em quantidade significativa e usado operacionalmente em décadas passadas: o famoso “S-tank”, da Suécia. A desvantagem principal é que é necessário apontar todo o carro em direção ao alvo, o que tornaria impossível o tiro em movimento. Uma solução intermediária seria a adoção de torres não-guarnecidas (e portanto menores), com o comandante passando a assumir uma posição no casco e adotando-se um carregador automático (carregadores automáticos já são uma realidade, estando em uso no Leclerc, T-80U, T-90S, etc.).??Nova proteção?A inevitabilidade de que futuramente sejam adotados veículos mais leves leva a algumas considerações. Na impossibilidade de se acrescentar mais e mais blindagem, começaram a ser desenvolvidos alguns interessantes equipamentos de proteção, conhecidos como DAS (Defensive Aid Systems, ou Sistemas de Auxílio à Defesa). Relativamente leves, não têm impacto sensível no peso do veículo, mas aumentam consideravelmente o nível de proteção, o que compensaria a diminuição na blindagem.


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 Esta foto de um Challenger 2 disparando seu canhão claramente ilustra porque, uma vez tendo engajado o inimigo, é muito difícil a um CC não ser detectado. (Foto: Crown Copyright)

Atualmente, vários países já usam dispositivos de alerta-laser, capazes de avisar quando o veículo está sendo iluminado por raios laser provenientes de telêmetros ou sistemas de designação de alvos ou de direção de tiro inimigos. Para a guarnição, é desejável que esse alerta possa ser dado não importando de que direção venha o laser. Em outros termos, isso significa que devem ser adotados detectores que cubram um arco o mais amplo possível. É igualmente desejável que seja indicado aos tripulantes o azimute aproximado da origem do laser, de forma a facilitar o engajamento. Os sistemas mais sofisticados podem analisar o tipo de radiação e — através de comparação com uma biblioteca já armazenada — indicar o tipo da ameaça.

Foram também desenvolvidos alguns equipamentos de alerta-radar, bem como jammers infravermelho. Esses jammers objetivam confundir as unidades de tiro de mísseis anticarro, fazendo-as aceitar o sinal falso gerado ao invés do que vem do flare ou da lâmpada de xenônio localizada na cauda do míssil AC. Existem informações de que já na Guerra do Golfo, em 1991, muitos carros T-72 da Guarda Republicana do Iraque possuíam jammers IV no topo da torre, tendo através de seu uso conseguido desviar vários mísseis.

Entretanto, logo se verificou que a simples instalação de tais equipamentos poderia não ser suficiente. O ideal era o desenvolvimento de suites de proteção que combinassem os diversos equipamentos, integrando-os em um sistema que envolvesse contramedidas ativas e passivas.

Os DAS têm custo elevado, e fica no ar a questão de quanto se deve gastar na proteção de um MBT. Definir esse ponto de equilíbrio não é fácil. Os CC modernos não são baratos nem existem em quantidades comparáveis àquelas da Segunda Guerra — precisam, portanto, ser preservados. Se, entretanto, a aplicação de sofisticados sistemas de proteção tornar seu custo elevado demais, o resultado será a produção de uma quantidade menor de veículos, o que terá sobre a frota de CC de um país um efeito semelhante ao atrito sofrido em possíveis combates. A situação complica-se ainda mais quando se verifica que os meios anticarro continuam evoluindo.

Parece haver um consenso de que, no futuro, um CC precisará ter capacidade de detectar uma ameaça e neutralizá-la antes que seja atingido. Sistemas de soft kill podem ser eficazes contra mísseis, desviando-os, mas munições balísticas, uma vez disparadas pelo inimigo, só poderão ser neutralizadas através de hard kill, ou seja, sua destruição física.

Os russos parecem já ter constatado isso há muito tempo. Em 1983 iniciaram-se os testes com um sistema denominado Drozd, desenvolvido pelo KBP Instrument Design Bureau. A variante –1 protegia somente o arco frontal, mas o Drozd-2 cobre 360 Î; montado na torre, pesa 1.000 kg e consiste de três módulos de radar, quatro unidades de armamento (cada uma com duas munições defensivas), um painel de controle e um módulo de equipamento de radar. O radar detecta e acompanha a ameaça (munição chegando, a uma velocidade entre 70 m/s e 700 m/s) e uma das munições defensivas (cuja velocidade é de 190 m/s) é lançada quando o projétil está a aproximadamente 200m do carro. A explosão da munição lançada (alto explosivo, de fragmentação) ocorre a 6-7 m do carro, lançando grande número de fragmentos na trajetória do projétil inimigo. O primeiro veículo a receber a instalação do Grozd foi o T-55AD (não mais em serviço), seguindo-se o T-62D/D1; o sistema foi também demonstrado no T-80U.

O disparo automático das munições defensivas é suspenso quando a escotilha do veículo estiver aberta. Isso revela um problema encontrado quando se utiliza esse tipo de sistema, ou mesmo blindagem reativa: os danos e baixas que podem ser causados, por exemplo, à infantaria amiga desabrigada, que esteja nas proximidades do CC. Até o presente, não foi encontrada uma solução satisfatória para isso.?O Drozd foi instrumental no desenvolvimento do Arena, muito mais sofisticado. Um radar colocado sobre a torre realiza a vigilância, e uma vez detectada a aproximação de uma munição inimiga que seja caracterizada como ameaça (disparos que não vão atingir o veículo são ignorados, mesmo que passem perto; o mesmo ocorre com estilhaços de artilharia e tiros de armas pequenas), e passa a rastreá-la. No momento adequado é acionada automaticamente uma munição defensiva (em número de 22 a 26, localizadas em “silos” no entorno da torre). A detonação ocorre a uma distância considerada segura, e uma chuva de fragmentos atinge a ameaça.

O Arena protege os setores frontal e laterais do carro, e foi demonstrado nos protótipos do T-80M2, tendo sido oferecido para o programa de modernização dos T-72M1 da Índia. O tempo gasto num engajamento é 0,07 segundos; 0,2 a 0,4 segundos depois, o sistema está pronto para detectar e engajar outros alvos. Como no Drozd, a munição defensiva só é disparada se a escotilha estiver fechada. Os russos informam que a área letal para a infantaria é de 20 m a 30 m do carro, e que uma luz externa de aviso sinaliza que o sistema está ativado. É pouco provável, entretanto, que soldados em ação prestem muita atenção a esses detalhes...?Os Estados Unidos planejam adotar, para o seu programa FCS (Future Combat Systems), um sistema defensivo bastante abrangente, que possa se contrapor inclusive a mísseis em trajetória de “top attack” e a submunições do tipo self-forging.

Armamento
A questão do armamento principal também é importante. Os MBT via de regra utilizam canhões de 120 mm, e embora vários países tenham feito testes com calibres maiores (mormente 140 mm), é provável que o limite atual não seja ultrapassado. A adoção de um canhão de maior calibre significaria maior peso, que é o que se quer evitar. Por outro lado, não traria nenhuma garantia de que um veículo defendido por um moderno sistema de proteção pudesse ser destruído. Em princípio, portanto, não há porque usar um calibre maior.

Essa é, pelo menos, a visão que prevalece no Ocidente. Em 1997 foi revelada a existência do protótipo de um novo MBT russo, de silhueta excepcionalmente baixa, ao qual se denominou “Black Eagle”. Embora não se saiba muitos detalhes sobre o veículo, o armamento principal constava de um canhão de alma lisa de 135 mm, alimentado por um carregador automático. Pouco depois, anunciou-se estar em estudo um MBT denominado T-95, também armado com um canhão de 135 mm e cujo peso chegaria a 50 t. Dada à atual situação da economia russa, é pouco provável que um desses dois veículos seja colocado em produção a curto prazo.

Abaixo O peso dos atuais MBT (na foto, o Leclerc) limita seriamente sua mobilidade estratégica, e deverá levar ao desenvolvimento de veículos mais leves. (Foto: GIAT)

Alguns setores pregam uma regressão para o calibre 105 mm, caso se opte por veículos mais leves. Buscar-se-ia na sofisticação das futuras munições uma forma de igualar a eficácia do atual 120 mm. Existe também a possibilidade de desenvolvimento de armas totalmente revolucionárias, como canhões eletrotérmicos-químicos (ETC= ElectroThermal Chemical), que permitiriam obter com o calibre 120 mm o desempenho que hoje só seria possível com o 140 mm.?Em parelelo, novas munições podem aumentar a capacidade dos MBT. Fala-se, por exemplo, no desenvolvimento de munições guiadas que, disparadas pelo canhão, confiram um grande aumento na capacidade de engajamento de helicópteros pelo CC.??

Tem futuro?
Parece certo, portanto, que a médio e longo prazos serão adotados veículos mais leves mas que, graças a progressos nas áreas de armamento e medidas defensivas ativas, possam desempenhar o mesmo papel dos MBT atuais. Os futuros veículos deverão também ter maior mobilidade e menores custos inicial e de operação — requisitos difíceis de ser compatibilizados. Os EUA, por exemplo, almejam um limite de 20 t para seu FCS, mas muitos pensam que — a menos que ocorra alguma inesperada revolução tecnológica — não será possível, na melhor das hipóteses, obter um peso menor que 30 t.?A curto prazo, vão prevalecer os CC já existentes — sofrendo modernizações que lhes permitam se contrapor à evolução do armamento anticarro. A atual geração de MBT ainda vai estar em serviço durante muito tempo.

O Exército dos EUA espera colocar em serviço os primeiros FCS a partir do Ano Fiscal 2012, mas reconhece que o M1 Abrams ainda se constituirá num componente importante de suas forças blindadas pelo menos pelos próximos 25 anos. O mesmo se pode dizer quanto ao Leclerc e ao Leopard 2, em relação aos países onde estão em uso.?Novos sistemas de proteção serão uma opção interessante para a modernização de carros existentes. Seu custo, porém, representa um impedimento para sua implementação em grande escala, o que pode significar que estarão disponíveis somente para instalação em parte das frotas blindadas. Os carros assim protegidos seriam empregados nas primeiras levas de ataques contra adversários que disponham de sistemas AC de última geração. O cenário ainda não está suficientemente claro para que se chegue a definições exatas. •